Quando Francisco Cecílio, no final dos anos 1950, teve uma intuição visionária sobre o potencial do pinhão, o mundo era muito diferente do que é hoje. “O pinhão era colhido manualmente e trabalhado pelas famílias”, conta Teresa Cecílio, a neta, terceira geração à frente da empresa de Coruche que leva o nome do avô e é, atualmente, a mais antiga fábrica transformadora de pinhão em Portugal, com as marcas Pinheiro e Lynce.
Francisco era “um comerciante por natureza” e conta-se na família que aos nove anos já andava a negociar cabritos para depois os vender. Talvez por isso viu na altura o que ninguém via: fechados dentro dos milhões de pinhas dos pinhais da região estavam os deliciosos pinhões pelos quais alguém um dia haveria de pagar bom preço.
O processo não era simples. Depois de os homens subirem aos pinheiros para apanhar as pinhas, estas eram distribuídas por famílias que, na madrugada, ocupavam todos os membros, adultos e crianças, na tarefa de abrir a pinha, tirar o pinhão em casca, abrir a casca e retirar o miolo. O problema, conta Teresa Cecílio, é que nesses tempos do seu avô a rentabilidade era baixa porque não se conseguia controlar a quantidade de pinhões que estes trabalhadores iam comendo. Quando, na manhã seguinte, Francisco passava pelas casas para recolher os sacos de miolo de pinhão, as famílias diziam que só rendera aquilo e o empresário não tinha maneira de confirmar se era verdade ou não.
Foi por isso que começou a pensar em formas de tornar o processo mais rentável e criou algumas máquinas para ser menos dependente da mão-de-obra humana. Os pinhões em casca chegam, são molhados e levam um choque térmico que faz rachar a casca, são depois separados da película mais fina que os envolve, passam por uma lavagem porque o pó negro infiltra-se facilmente nos poros, são secos, polidos, e cuidadosamente selecionados, primeiro por uma máquina e depois por um grupo de mulheres que só deixam passar os que estão perfeitos, com tamanho e cor ideais.
No entanto, esta é a segunda parte de um processo que começa a alguns quilômetros dali, na Herdade dos Coelhos, onde chegam as pinhas compradas dos proprietários florestais da região, que é uma das principais zonas produtoras de pinhão do país.
De uma pinha retira-se em média 3% de miolo de pinhão, tudo o resto é madeira que será usada como combustível. Isto ajuda a perceber por que é que este fruto atinge valores tão elevados. Mas existem outras explicações como o fato de que a apanha do pinhão ainda é um processo muito manual, complicado, com riscos, e, por isso mesmo, com custos elevados.
Já existem algumas máquinas para a apanha mecânica, que fazem vibrar o pinheiro até as pinhas grandes caírem no chão (são adaptadas das usadas nos olivais), mas nem todos os produtores as utilizam. Os pinheiros mansos têm uma característica que os torna muito diferentes das oliveiras neste aspecto: os seus ciclos produtivos são de três anos, o que significa que em cada pinheiro há pinhas em três fases diferentes, a maior, que pode ser apanhada, uma média, que atingirá o tamanho ideal daqui a um ano e uma mais pequena, que será colhida ao terceiro ano. É essencial que, qualquer que seja o método utilizado para a apanha, só caia ao chão a pinha maior, e que as outras não fiquem danificadas para não comprometer a colheita do ano seguinte.
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