O ano começou com alívio para 500 trabalhadores da fábrica da Volkswagen instalada em São José dos Pinhais. De olho em um mercado crescente de veículos SUV, a montadora reenviou à linha de montagem funcionários que estavam desde 2017 em regime de layoff – afastados da produção, em um regime especial de contratação, mas com a sombra do desemprego às costas. Eles deverão trabalhar na montagem de um novo modelo, o T-Cross, que, acredita a montadora, deverá ser sucesso de vendas.
“Com o retorno das pessoas que estão em layoff nós vamos incrementar o volume diário de produção em cerca de 70%. Além disso, em 2018, trabalhamos apenas 148 dias. Em 2019, nós vamos trabalhar 250 dias. São cem dias a mais”, diz Marcos Ruza, diretor da fábrica. “Claro, temos a expectativa de que com a estabilização política e econômica do país nós vamos ampliar as nossas projeções de produção e venda. Gostaríamos que isso acontecesse neste ano”, completa o executivo.
Em fevereiro, a Volvo anunciou R$ 250 milhões em investimentos até 2020 e a contratação de 300 novos funcionários para a ampliação do segundo turno da produção de caminhões em Curitiba. “Nossa decisão de novos investimentos e contratações é resultado dos sinais consistentes de retomada da economia e da expectativa de um aumento de cerca de 30% no mercado total de caminhões no Brasil”, disse à época Wilson Lirmann, presidente do Grupo Volvo América Latina.
Pois é graças, em grande parte, à indústria automotiva que o Paraná tem assumido o protagonismo em uma desejada e, aparentemente, iminente recuperação da economia brasileira. De acordo com números do IBGE, nos dois primeiros meses do ano a produção industrial paranaense cresceu 10,3%. Foi o melhor desempenho do Brasil. Para comparar, o segundo melhor estado neste recorte, Rio Grande do Sul, teve alta de 6,7%. O resultado é bom também no acumulado dos 12 meses (de março de 2018 a fevereiro de 2019): 3,4% de aumento, um dos cinco melhores resultados entre os estados no período. O valor vem para tentar tirar o garrote do pescoço do PIB estadual, que retraiu 0,6% em 2018.
O setor automotivo, de Volvo e Volkswagen, produziu 25% a mais do que nos dois primeiros meses do ano passado. Mas há uma boa performance também de segmentos como os de maquinários, petróleo e alimentos. Justamente esse leque de setores, muito mais do que as ainda emperradas ações estruturais do governo federal, que culminou no “fenômeno paranaense”. “O Paraná realmente tem dados destacáveis. Essa composição econômica entre setores foi fundamental para o estado, pois o crescimento se deu justamente naquilo em que somos mais fortes. Fomos favorecidos por essa particularidade, já que a conjuntura brasileira, pelo menos nesse momento, ainda não justifica um crescimento tão acentuado”, diz Julio Takeshi Suzuki Junior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). “É a diversificação. Por isso que o Paraná descola do resto do país”, aponta.
De fato, são números de fazer inveja à média brasileira. O país viu sua produção industrial, também pelos números do IBGE, encolher 0,2% no primeiro bimestre de 2019 em comparação ao de 2019; e crescer apenas 0,5% no acumulado de 12 meses. “No Paraná, teremos um fôlego muito maior do que no contexto nacional”, aponta o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Luiz Campagnolo. “Os segmentos industriais são tão diversificados no estado que acabam facilitando esse crescimento. Temos muitas alternativas”, destaca.
Confira abaixo o desempenho da produção na indústria paranaense nos dois primeiros meses de 2019 em comparação com outros estados:
Os cinco melhores estados (Fonte IBGE):
- Paraná: 10,3% de aumento
- Rio Grande do Sul: 6,7% de aumento
- Goiás: 5,8% de aumento
- Pará: 5,2% de aumento
- Ceará: 3,2% de aumento
Média Nacional (Fonte IBGE): -0,2%
Segmentos de melhor desempenho no Paraná (Fonte IBGE):
- Automotivo: 25,8% de aumento
- Máquinas e equipamentos: 19,5%
- Derivados de petróleo: 16,5%
- Alimentício: 11,9%
- Material elétrico: 11%